.05 - parte II

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-Estás a olhar para o monitor há quase uma hora.”
-Não consigo. Estou sem cabeça, sem paciência, mãe...; diz ela esfregando com a palma da mão na testa. “-E acho que estou a ficar com enxaqueca também.”
-Queres tomar alguma coisa?”
-Mhm, se faz favor.”
- Deixa só acabar de por a máquina a lavar. Tens roupa suja?”
- Não..., mãe?”
- Diz.”
- Fui falar com aquela mulher, a velha” – diz renitente.
- Ó mas porquê!”
- O que me estão a esconder? Onde é que está a minha mana, mãe?! - vira a cadeira da secretaria já um pouco torta dos anos e do uso e fixa o olhar na cara vermelha da mulher que ao longo da sua vida nunca lhe tinha escondido nada, mas agora parecia que isso tinha mudado.
- Quando ela estiver preparada, ela volta para nós, nos termos dela. Como sempre foi. Agora o melhor é deixares de brincar aos policias e ladrões ou alguém ainda se magoa.” - a mãe passava-lhe a mão pelo cabelo liso ruivo que lhe caia pelas costas. Queria dizer algo mais mas não haviam palavras para a frustração que ambas sentiam. Ela também fora falar com a velha antes do inicio de tudo e só lhe trouxe mais peso no peito de mãe.
- Mãe...”
- Diz.”
- Mãe, a velha acha que a mana voltou a sonhar.” - A mulher sorriu as escondidas da filha: “- Ó filhota, a tua irmã nunca deixou de saber sonhar.”
- Não estou a falar disso, tu sabes..., as coisas que ela dizia e depois aconteciam.”
- Filha, esquece isso. Acho que primeiro ela precisa de se ajudar a ela antes que ela possa ajudar outros.”
- Mas eu quero ajuda-la!” - A mãe sacudiu a cabeça: “- Não..., tu é que precisas dela. Porque ela esteve sempre aqui. E agora que ela foi-se, sentimos este vazio em todo o lado. O telefone não toca. Não hã mensagens perdidas. Fotos no facebook. Mas ela volta. Tens que ter fé, ela...” - “Não consigo!; interrompe. “-Não consigo esperar. Sinto uma aflição no peito, algo que vai arder para sempre. Mãe, sabes de alguma coisa? O mínimo que seja, qualquer coisa, peço-te por tudo!” - as lágrimas corriam-lhe pelo rosto sardento e magro. Das duas a mais nova se tinha tornado mais parecida a ela. Conseguia-se ver ao espelho de há vinte anos atrás. Limpou-lhe as bochechas molhadas com ambas as mãos e desapareceu do quarto por uns minutos deixando o cesto da roupa esquecido em cima da cama desarrumado.

Voltou com um papel rasgado e escrito com um numero de telefone. “- Liga-lhe, acho que era amigo da tua irmã e mais não sei. Mas toma cuidado porque houve uma altura ela não teve das melhores companhias e não sei quem ele é.”
- Então porque me estás a dar o número de um incógnito?”
- Porque ele ligou cá para casa e fez as mesmas perguntas e deu as mesmas respostas que tu. Parece que a velha também teve uma visita dele. Talvez ele tenha mais respostas. Sei lá.”
- Ele disse como se chamava?”-Não..., ele disse... “- a mãe deu um suspiro como se fosse dizer o maior disparate do mundo: “- Ele disse que era meramente e cito porque não quero eu ser a maluca da historia - uma jiboia que engoliu um elefante mas que toda a gente pensava que era um chapéu - Por isso, chama-lhe Chapéu... foi o que ele disse.”
Ela sorriu:”-O livro favorito da mana..., descansa mãe, é boa gente esse Chapéu.”

Brincou com o papel entre os dedos e voltou a focar-se diante do monitor, enquanto que a mãe saia do quarto como uma sombra desaprecia ao meio-dia.

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